AGORA FALAN

Transkript

AGORA FALAN
v-,'
"fl^ fk
/
MAIO
1978
S. PAULO
aniiNEERii
Ajudü .1 ni.nui-t
o MU jornal
Colnhorc tom
C$ 5,00
ORGAO DE DIVULGAÇÃO DA FEABESP — Rua Maria José 450 — Bela Vista SP.
I
"
No último dia 29, tivemos um sábado movimentado
12 MAI 1994
para a moçada negra,
paulista, pois estavam ocorrendo
grandes bailes em diversos clubes
S
na cidade.
Tivemos Carlos Dafé e Corrente de Força no Palmeiras, trazido pela
Equipe Chie Show; Jorge Ben e a Banda do Zé Pretinho
no Tucuruvi, pela Equipe Sideral e Toni Tomado
no Esporte Clube de Vila Mariana pela Equipe Manequins.
Ao todo tivemos aproximadamente quinze mil pessoas,
em sua maioria negros, participando nas diversas festas.
O Jornegro saiu também e correu essas casas
entrevistando o pessoal, dando destaque a juventude negra,
querendo saber o que ela sente e pensa sobre
tudo que diz respeito à nossa Comunidade.
Estamos publicando algumas entrevistas na íntegra,
para motivarmos um debate sobre o tema:
Como vive nossa juventude?
AGORA FALAN
!!•
maema
90 anos
de
abolição.
Quem lucrou?
Samba,
um pouco
da nossa
história
Mazzaropi
bota pano
quente no
racismo
PÁGINA 2
SEIilHEEilE]
Editorial
Pela segunda voz você
Inn a oportunidade do ler o
nosso Jornegro. O n" 1
confirmou a necessidade de
sua existência, não desper
lando fáceis elogios, nem
• riticas simplistas ou negatl
vas. Colhemos sim, do um
numero representativo de
leitores, opiniões claras
sobre o que estava mal e o
que estava bom, o também
sobre 0 que deveria ser
abordado, ü que se conclui
do lato, é que a comunidade
Cartas
Main Bemardes nos escreveu reclamando «da desconsideração ou da falta
de zelo que anda acontecendo desde o
13 de maio de 1977 com omonumento à
Mãe Preta, erigido no Largo do Paissandu, em São Paulo (...) deturpando o
sentido real da presença em tão importante praça, daquela que bem representa
uma das origens da gente brasileira,
explicando com firmeza de rocha do que
foi capaz a sua abnegação quando a
América convocou nos para construir
um novo mundo até hoje em elaboração».
oooOOOooo
N.R. Main, disiordamos de suas
idéiiis, mas ressallamüs o sentido pnssi
tivo de sua carta colaboração que nos
"yemtiCb 'fifZKi üm jornalismo crítico, de
revisão das falsas interpretações sobre a
situação do negro no Brasil. Nossa
proposta é que todos esses mitos (13 de
maio, democracia racial, mãe preta,
etc.) causadores do nosso conformismo e
da nossa alienação, sejam examinados a
partir das reais condições que marcaram a vida do povo negro.
Não podemos considerar qualquer
culto à mãe preta como uma conquista,
pois. ela foi «mãe» dos herdeiros dos
escravagistas e não nossa. Portanto, se
alguém lhe deve gratidão não somos
nós. À função de ama de leite foi mais
não esta apática, o sonle a
necessidade de um amplo
debate, dos nossos problemas c deseja aprofunda Io.
E é desnecessário ressaltar
o papel que desempenharão
nossos jornais, que • orne
çam a ressurgir depois de
uma longa fase de estagna
cão. K ■ om satistacão ! ons
talamos que om varias cida
dos a comunidade já conta
com um jornal ou revista,
ou então, comera a lutai
para que isso se torno realidade. Faz se necessário,
agora, que se promova um
intenso intercâmbio entre
esses órgãos, para que o
debato não somente se apro
funde, mas, o que é muito
importante, se amplie,, não
ficando somente restrito a
pequenos círculos.
Um dos maiores proble
mas. que hoje nos itingi
íalta de i n í oi" m a c ão a
respeito daqueles que lutam
v. se dedicam a i omunidade.
Tomo contribuirão para
supri Ia falamos sobre u
Nenê de Vila Matilde, .■
pretendemos analisar todos
De tudo isso. fica claro que enquan
to não desenvolvermos um senso crítico
sobre nossas experiências, vamos conti
nuar exergando o mundo com os olhos
dos outros e assim, jamais conseguiremos a exata compreensão da realidade
afro brasileira.
OOOOOOOOO
O TIÇAO
Já está circulando o n 1 dn
Tição, revista do pessoal de Porto
Alegre. Revista bonita, consciente onde
em todas as suas partes traz como preo
cupação básica a amostra do negro boje
e agora.
Ela surge propondo a discussão e
abrindo espaço para as diversas infor
mações até então, omitidas em nossa
comunidade.
Procure o Tição cm sua entidade, ou
exija dela a sua circulação. Para um
contato direto escreva para Vera Dayse
Barcello», jornalista responsável, aos
cuidados dai Editora Paralelo 30 — Rua
Uma e Süua 92-1005 Porto Alegre —
Rio Grande do Sul.
ASSINATURAS
Para vecê ser assinante de JORNEGRO basta preencher
o cupon abaixo, e remeter por vale postal (em qualquer
agência de correio) o valor da assinatura, em nomo da
FEABESP. caixa postal 13.320 CEP 01000. São Paulo,
SP..
NOME
EÍJDRREÇQ:
ENDEREÇO P
CEP. ..
ENTREGA:
Preço da assinatura Cr$ 50.00 (incluída despesa de rorreiol v,ilida até dezembro
de 1978 V. receberá o n' 1 grátis.
equipes de baile, equipes de
soul o as iradh ionais esco
ias do samba. V., i omo nao
l« ' ia deixar de sei li rc
mi is algo sobre o « 1 3 dado»,
já que temos neste ano os
90 anos de «abolição» da
ai ura , uma ot ima
oportunidade para refletir
mos sobre o seu verdade iro
significado.
• CAMISA VERDE - Roda de samba
todos os sábados, na quadra. Rua James
Holland, 663 Barra Funda, a partir das
22 horas. Dia 10 6 78 nrandiosa Festa
do Vinho
Outra queslâo dizer que fomos convocados pnra construir um novo mundo
a América - suaviza as duras condi
ções que aqui enfrentamos. Na verdade
terras aos que se fixassem no campo.
Então, fizeram a Abolição e nós fomos
despejados nas cidades onde as melho
res oportunidades estavam reservadas
aos entrangeiros que chegavam.
os out i os e m n a meros
vindouros. Pai
uni • m
sobre o fim de semana de
nossos irmãos, sobre .is
lugares que eles freqüentam;
Notas
uma exploração da mulher africana, aí
utilizada como vaca leiteira em
beneficio dos europeus e seus filhos.
Nesse esquema, desdo recém nascido o
negro já era explorado, sendo sua prin
cipal fonte de alimento e saúde - 0 leite
materno — utilizado com prioridade
pela classe dominante, firando o filho
do ventre africano com as sobras.
fomos caçados, acorrentados, comercia
lizados como gado, discriminados e
postos a trabalhar feito bestas para
enriquecer a classe dominante até que,
como conseqüência de modificações na
economia européia, Pesaram a remune
rar o trabalhador porque o trabalho
escravo deixou de dar lucro. Aí sim.
convocaram nnvns trabalhadores — os
IWAIO 1978
NECKTTDDE — O Brasil é predominado pelos brancos. Em muitas coisas eles
precisam dos pretos e os pretos preci
sam deles (...)». »Eu escrevia peças e
apresentava aos diretores de circos. Eles
respondiam me; É pena você ser preta
Esquecendo eles que eu adoro a minha
pele negra, e o meu cabelo rústico. Até
acho o cabelo de negro mais educado do
que o cabelo de branco. Porque o cabelo
'de preto onde põe. fica. É obediente. E o
cabelo de branco, é só dar um movi
mento na cabeça elo já sai do lugar. É
indisciplinado Se é que existe reincar
nações, eu quero voltar sempre preta».
(Trechos do livro Quarto de Despejo de
Carolina Maria de Jesus, favelada, mãe
de 3 filhos e escritora. Carolina catava
papel e bugigangas que vendia ao ferro
velho pra sustentar seus filhos. .Estro
vou esse livro em que denuncia os absur
dos de um Pais que joga muitos de seus
filhos nas favelas.
• NENE DE VILA MATILDE
Crande
Roda de Samba, sábado, dia 13 de
maio, serão homenageadas as escolas de
samba l.apeanos e Águia de Ouro de
Vila Pompèia. o endereço é: Rua Júlio
Rinaldi n1 1 - Vila Salete
Penha. Dia
27 de maio a quadra estará em festa.
Os filhos, Betinho, Gilberto o Adalberto,
convidam para a bodas de prata do seus
pais. dona Maria Thereza e Alberto
Alves da Silva (Nenê).
•PAULISTANO DA GLORIA — Rodas de
Samba todas as sextas feiras no salão
da rua da Glória. 132. Bailes 5's..
sábados o domingos.
• COMPANY SOUL IVsM de aniversário
,4-
rimifi
ir 1--...1
J.~
10 -i..
—••.
••••
Casa de Portugal. Participação das equi
pes Black Mad o Zimbabwc Soul.
Mandem noticias pessoal — Caixa
Postal 13320— 01000 São Paulo SP
Faca sua
assinatura
Leia
e divulgue
Jornegro
Expediente
Jornegro — Órgão de divulgação da
Federação das Entidades AfroBrasileiras do Estado de São Paulo.
Redação: Francisco Carlos C. Santos
(Tatol. Francisco Marcos Dias. José
Carlos de Andrade (Jamu Minkal.
Leonardo Ferreira. Luiz Silva (Cutil.
Fotografia: Luiz Paulo P. Lima c
Mensah Gambá. Ilustração: Jaques Felix
Trindade. Produção e Diagramação:
Ubirajara Motta Diretor responsável:
Odacir de Mattos. Redação e Administração: Rua Maria José. 450, São Paulo.
Composto e impresso nas oficinas dos
Diários Associados — Rua Sete de Abril,
230. 1" andar. Órgão de circulação inter
na daFEABESP.Registro em andamento.
Ccrrespondência: Caixa Postal 13.320 ■
CEP 01000 São Paulo SP.
MAIO 1978
AIIRNCERII,
PAGINA 3
Precisamos conhecer e escrever nossa história
Um dos maiores problemas
que aüqgo nossa comunidade, é a
falta de informação a respeito
daqueles homens que dedicaram
sua vida na defesa da melhoria
das condkõrs de vida do negro
brasileiro. Não são raras as vezes
cm que este negro desconhece um
irmão que muito lutou por aquilo
que ele sempre sonhou ver um
dia. Por esta razão, Jornegro
pretende a partir deste número
realizar, uma campanha cm favor
da nossa história (que também e
liistória do BrasilI. c dos homens
que a fizeram: Iniciaremos com a
publicação de um pou-o da histó
ria do Nenê de Vila Matilde; a
primeira esrola de samba de São
Paulo.
NENÊ, 29 ANOS DE SAMBA
«autoridades»: não havia agrupa
mentos de sambistas nas ruas que
não fossem dissolvidos pela
Policia. Mais de três negros juntos
na rua. parecia ser coisa proibida
por lei.
O sr. Alberto (Nenê) disse nos
que o seu interesse pelo samba é
coisa de família, isto é, veio com
a tradição, seu pai era sanfoneiro
e gostava de ver o pessoal no
pagode. Nenê aos treze anos era
pandeilista, aos quinze anos já
tocava em um conjunto no rádio.
Algum tempo depois, vendo que
as portas por onde passaram
outros músicos estavam fechadas
para ele, abandonou a coroa de
rei do pandeiro e partiu para a
Escola de Samba.
Até 1956, o carnaval em São
Paulo era organizado pelas rádios,
o carnaval do Bio já era melhor
na época, e parecia ser algo
impossível do ser alcançado; junto
com o Nenê de Vila Matilde desfi .
laram também a escola do Peruche, I.avapés e outras escolas
menores. Antes do Nenê de Vila
Matilde lia viam cordões como o
Príncipe Negro, mas eram agrupa
mentos não organizados, nasciam
e morriam no carnaval.
No ano de 1956 o Nenê
lançou se na disputa do título do
l*1 desfile organizado- pela ' prefei
tura; o Nenê vcnccucum "o Saniba
intitulado «Casa Grande erSenza
Ia», inspirado na dor que OOSSüS
antepassados sentiam nas vésperas
O Nenê de Vila Matilde,
nasceu como Escola de Samba no
dia 1 de janeiro de 1949, funda
da por Júlio Erainisco,, Antônio
Alves de Almeida. Cabelinho
(irmão do Mário Américo), Geral
dina e por Alberto Alves da Silva,
(conhecido como Nenêi. O Nenê
de Vila Matilde foi a primeira
Escola de Samba que apareceu
em São Paulo, não tinha sede própria e o local de encontro da
negrada era no Tatarico (um lugar
na Vila MatildeI.
Na época em que a escola foi
fundada havia muitas dificuldades, começando pela falta de
lugar
próprio
para ensaios até a
lUKUI
^/l L/pi iVJ [/mu Ww%w fc*«~ 14
&' Sfire^J Mandas, o samba era
incompreenção por parte das
assim:
É banzo
Nego tá chorando
É banzo
N
êgo tá gemendo
LABABABAIA
Aruanda ficou
Larara
O mar separou
Larararararara
Senhor, meu senhor
Lararara
Nêgo, tudo deixou.
É banzo que Nêgo tem.
É banzo que Nêgo tem.
É banzo que Nêgo tem!
Na Casa Grande, tudo é alegria.
Na Casa Grande, tudo é festança.
Na Senzala nêgo chora, chora
que nem criança.
Banzo que nêgo tem.
Banzo que nêgo tem...
Nos anos seguintes, a escola
saiu com outros grandes sambas;
em 1957 «Lei Áurea». Nesse ano o
Nenê de Vila Matilde não ganhou,
pois a Escola não conseguiu encontrar o lugar do desfile. Em 1958 a
Escola veio com «Grito do Ipiran
ga», e a Escola foi campeã. Em
1959 um enredo sobre «Chiea da
Silva», colocou pela primeira vez o
nome da Nega em destaque para
o grande público. Em 1960 fizeram um samba em homenagem a
«Brasília», que também foi sucesso. E assim até hoje a Escola vem
Se destíiC3.'?JÍ& .f\t\iti r{T.ni>-r>jHj>^
sambas, que na verdade só refle-
e
v**
Carlos tem aparência saudável, uns
olhos grandes e um sorriso bonitoe
amigo. Tem apenas 10 anos e já está na
luta, trabalhando para ajudar no orça
mento familiar. E como ele, milhares de
garotos ocupam pragas de cidades brasi
leiras com suas caixas, latas de graxas,
panos e escovas.
UM EXEMPLO
De Riberão Preto recebemos alguns
exemplares de Travessia órgáo de divulgação das atividades do Centro Social,
Cultural, Recreativo e Beneficente José
do Patrocinio. 0 jornal nos dá noticia de
como foi fundada a entidade que o
edita, da qual extraímos alguns trechos
interesscintes: «0 idealismo de dois
grupos fez com que uma realidade
tumeçasse a surgir 0 Clube José do
Patrocinio cresce lentamente devido ao
ideal existente em meia dúzia de
pessoas. Localizado na Avenida dos
Andradas, 1030, no Parque Riberão
Preto, possui uma área de 14.000 m2
aproximadamente. Somente aquele que
lutou para ler o que hoje muitos consi
deram inútil é que sabe o que é uma
verdadeira luta. O sonho de nossa popu
lação negra sempre toi ter um lugar
onde pudesse fazer o ser lazer Um
tem o espirito de luta e de traba
lho continuo que eles vem desen
volvendo em prol do samba aqui
em São Paulo.
0 mais importante é que o
passado glorioso da Escola, não
fez com que seus lideres se
acomodassem, o Nenê da Vila tem
também planos para hoje e para o
futuro. Se houver o apoio necessá
rio, a Escola pretende reformar o
prédio, regularizar toda a parte
imobiliária e transformar a Escola
em um local não só de muitos
sambas, mas também de<oulras
atividades comunitárias, como
cursos supletivos e Técnico), uma
escolinha de samba para as crian
ças, quadras de esportes e demais
atividades que sabemos, são muito
necessárias para a nossa comuni
dade.
Restavam me menos de 10 minutos
na cidade de Carlos, mesmo assim pedi
uma engraxada. Receptivo como era.
enquanto limpava meu sapato, fomos
batendo um papo. Apesar da pouca
idade, Carlos já tem muita história pra
contar e gosta duma conversa. Tanto
que mais de uma vez precesei lembrar
lhe que nào interrompesse seu trabalho
enquanto conversávamos senão eu
perderia o ônibus para São Paulo.
Eram 12,25 hs da segunda feira e
ele ainda nào tinha ganho nenhum e eu
lugar de encontros com os amigos e
recreação para suas crianças, já que a
maioria é impedida de se associar aos
clubes locais. (...) Havendo conhecimen
to da existência de dois grupos, «Kenia»
e «13 de maio», há um convite por parte
dos elementos do «13 de Maio» para
uma reunião. 0 encontro se realizou.
(...) Depois de muito diálogo surge, por
votação, o Centro Social, Cultural.
Recreativo e Beneficente José do Patro
cinio»
M
fui seu primeiro freguês. Fiquei sabendo
que ele mora com a tia que cuida dele e
de mais 5 filhos. Carlos não conhece o
pai e sua mãe está doente e internada
Sobre a escola contou me que a profes
sora mandou o embora juntamente com
os primos. Segundo êle foi porque a
prima brigou com a professora e ela
«tirou todo mundo lá de casa». Mas ele
acrescentou que no ano que vem o tio
vai leva los para outra escola.
Encostou meu ônibus e tivemos que
interromper a conversa.Fui pagar e
como não tinha trocado lã foi ele
correndo batalhar o troco. No final, pra
resolver, acabamos fazendo um rolo
com um nego veio que vendia marolo —
um fruto cheiroso e gostoso que tem lá
pelo Sul de Minas. Eu parti e aquele
negrinho risonho e esperto ficou a espe
ra do próximo freguês.
Festa da Cerveja
Dia 24 de maio o
Paulistano da Glória
promove sua 5' grande
«Festa da Cerveja» —
Rua da Glória 132. É
Véspera de feriado
pessoal!
O 1978
PÁGINA 4
20 anns, .-si iniiintt'
<'i'i.i num SDU! é mn ritmo dtí
lil)cri.i( .'IU. Umu mÚMrii nrjjra do
i\p.y,ri) |).H.I o mr.nv Aicm do Snul
urto Sumba, Kiick. Blues, .luz/
pms .i innsK ,1 - ntn.i lingua^oni
(inivrlsal l-ssfs • ai .is qut! ^n se
umarrum riu Soul ê porque é
moda
Por que o Soul so fica nessa
de língua estrangeira?
Ku não entendo m/jrs mas me
Identiflcu um o ritnMi I? u hpci de
som que ou oi oito u ii medida quo
eu danço, entru numa iiansiião
quo i:oordena os movimonlos (limou oorpo a fico bem descontrai
do. No Soul u pessoal quur mais o
dançar. Rle lá sahcndu quo não
irnt nada a ver ■ <ini o p.ipo.
Como não tem nada a ver se é
uma musica Talando de coisas que
o negro vive e sente?
Ku sei definir uma musica do
hi anco de unia musica negra. Si i
desmislincur um Rock do Soul.
Tua nquipo também sô toca
masit a americana???
A gcnUi icm quo i "!{)■. ar o quo
o pessoal quer No começo tinha
Dufe. Tini Maia. Mas com o
lompu esse pessoal loi saindo <lo
ar e Imje a genu: so loca disco
umoi uauí).
O Soul é uma forma da gente
se transar?
Sim, é uma forma da gomo se
agrupar. Mas o chulo 0 saber que
so se limitam a Soul. Por exemplo,
numa lesta como essa que junla
mais de 3 mil pessoas, grande
parlo não vê o ouiro lado da
coisa, não sabe o que lã curtindo.
Então, como é que tá todo
mundo junto?
Kssa Casta aqui no Palmeiras
pia muita geme é slaius. Hoje o
cura ia aqui. Amanhã quando
perguularem: onde você foi
ontem?
Ali l. . . eu fui no
Palmeiras.
O que significa África?
Pia mini é a lerra mãe. Sabe
se que nossos antepassados foram
forçados a vir pra cá, esse papo
todo. l-alar de África i; JmporUnue
para entender nossas origens.
Músicos que eu curto? Gil,
Jorge Ben, Simonal. .James
Brown, (Juincy Jones, Curtis
Mayfield.
Como você vê a situação do
negro no Brasil?
A geme vê u racismo no dia a
dia. üuundo se vai lazer cumpra
você nolu que esta sendo seguido,
aspessoas olhando alravessado
pia gente.
Somos uma comunidade?
Sim. Mas acho que precisamos
nos alerlar i m lermos de parlici
.aiIRNESRn,
JHBIRNEERIIB
PAOI
um
AGORA Ft LAN
pacão. Fa/cr alguma coisa: assocl
ações, bolai osso pessoal lodo nas
escolas o universidades porque do
jeito que lá a gente não controla
nada, so e mamlado.
O que você acha dessa mensa
gem que deram ai dizendo que
DUO lem essa de ■ i nlsciêl! ■ ia
lai ial na musica, que o negócio e
dar a mão prós wliile?
Não lii Mim nada. Não teni
■ss.i porque nos viemos pm Brasil
110 pioi Ira/iilos ■ omo c.e hoiTOS
cm navios nceienns. Kntão . não
vou nessa de dar a mão assim
st in mais ni m mem is.
(jual a diferença entre Soul e
üiscoteque?
No meu modo de ver .inihos os
estilos são músieu negra. O Soul é
um som mais selvagem, mais
HgitudO clHjllanlo D discolequtt e
mais suave, prineip.ilmcnlc pias
miiiinitihas. Ai lio quo o lilsi i )lo
tjllc e bem III.es ai oito!
Kntão, pui que a vaia quando
lOClim (lls':oteqile '
Não stii se você niptuii que loi
D pu\,ãi) Ia il.i IVl llto !-.les so
curlem Soul. lí a pá do Soul.
Como você vê o nosso futuro?
Se (.ontimiar desse jeito não
vai dar em nada porque a maioria
so vem dançar e não se proocupu
com a comunidade. Klos não se
preocupam em. por exemplo,
disputar com o branco, conquistar
melhores condições.
Oual o maior grilo que você vè
no mundo?
Um branco me ehamar de
negrinho, do Pele.
Tudo bem com o Soul do jeito
que está ou você modificaria algu
ma coisa?
Apresentaria alguma poça afro
quo falasse da gente. Uma infor
mação maior pro pessoal. Algo
que livossc a ver com torra mãe
que ê muilo importante. Por quo
só americano?
Como você vê o negro americano?
K o tipo de '.ara que passou
pelo quo nós lemos passado. Mes
são muito mais unidos quo nós.
São. . . eu não vou dizer imoligen
les. Enfim, o negro brasileiro é
um gigante dormindo.
MARCELO. BARROS, 1H unos,
trabalhador o estudante
«Eu me liguei em Soul lá no
Rio onde morava meu irmão o me
dei muito bem nesse movinientu.
l
k
*' -i
t>-V
Pia mini. ele representa pralii u
meiiie nulo. Eu estudo, trabalho e
quando chego em casa ja mu mo
um pouco do música. Do prelcrén
ia Soul. Algumas discoleques
também, mas não todas».
Porque esse cabelo afro?
l-oi um movimento que surgiu,
nó? Antigumenle era o lamoso
escovinha, repartidiiiho do lado.
brilhanlina o lal. Mas surgiu esse
movimento o to nele até hoje. Em
casa não leve grilo, Mas num
serviço quo eles implicaram eu
pedi a coma. Era mim consultório
dentário. Eu trabalhava de auxi
•liar de prótese e andava sempre
de cabelo alto e ■ocotinha mas o
patrão achou que ficava mal
entrar assim na sala dos clientes.
0 que significa África?
Pra mim representa grande
coisa porque ou lenho que ir pro
lado de meus antepassados, não
é? Minha võ era africana pura.
depois veio a falada miscigenação.
Uns (asaram com branco, outros
com mulatos e aqui tou eu.
O que você pensa de miscigenação?
Em certos aspectos e boa.
mas não muito. Tem muita politi
ca entre a família, os amigos,
quando o caro casa com branca.
Pra mim. com sinceridade, não
sorve. É só das nossas, de prefe
rência com o cabelo alio. Agora,
tem muita gente que gosla, acha
que e o maior barato. Mas não e
porque eles gostam por si mesmo
È so pra levar uma com os
amigos na base do; «Pô. to namo
rando com uma branquinha. Ela
não é mole». Mas acho que issl
dai não leva a nada.
E o samba?
Eu gosto 'porque desde os
anos quo saio cm escola, Eu uchd
legal, mas passou o car.navul, 6 s(|
bailo mesmo,
,
Esse negócio db movimentd
soul sb transar numa língua
estrangeira não è um furo?
Em certos aspectos é. Er
outros não, porque ouvindo
tradução você vai ver que. nãcl
tem nexo. Sobra os cOnJuntOM
brasileiros que transam soul, maa
também não dá pra ouvir muitq
bem porque não têm aquol
empolgução, não lem o ritme
característico delos.
Como você vê a situação dol
negro no Brasil?
Não é tão pisoteada comol
autos mas ainda há preconceito,]
embora ninguém queira encarar!
essa realidade. Há preconceito em
empresas, em escolas mas achol
que isso pode ser superado, f.l
batalhar com os brancos de igual I
pura Igual porque isso não ha|
mesmo. Você vê qualquer firma: i
chefe, o sub chefe, o sono. c |
dono. Ta tudo na mão deles.
JOSÉ MARTINS, 1 ii anos.
irabulhador e esiudante
«Tou nessa do Soul há uns 2
anos. É uni negócio legal, Mo|
sinto Bem. fico a vontade. Curto
James lirown Comodors, Asley
Brothers. Jou Tex. Brasileiros não
nenhum. Não gosto desse ti]*) de
música». O Soul so loca música
estrangeira o a gome lica por fora
do papo.
0 que você acha disso?
Nos não emendemos mas e
um negocio que contagia e a
gente dança u cama mesmo não
entendendo. Mesmo assim 0 um
nego Io bacana.
Tudo bem com u Soul do jeito
quo esta nu mudaria alguma
i lisa '
Desse jeito ta ótimo. Tudo
eiiinlio. a vontade, Se mudar
■ e-lio que vai piorar.
Por que o cabelo afro?
Porque gosto, todo mundo
curte, Neiiliiun grilo, a não ser
quando a policia to pára na rua
0 que significa África?
Um lugar onde so há negros.
Tem liberdade, mas não muilo.
Acho um pais legal, onde lodo
inundo se sente bem. Pra nós ê
importante saber da Alrica porque
È sobre nossa raça.
Oual o maior grilo que você vê
no mundo?
Custo de vida e u i onllito do
raças
Como você vê a situação do
negro no Brasil?
Ura tanto forçada. Não lem
toda aquela liberdade quo .
quer a não ser quando se esta
dentro de um baile lem coisa
que você quer lazer mas não pode
por causa da democracia. Por
exemplo, lazer uma reunião, uma
passeala contra alguma coisa.
Somos uma cümunida*de?
Não, não acho, O pessoal se
junta mas não ta unido devido
algumas barreiras que a socieda
de impõe. Na Uioria tem o direito
a muitos coisas mas. na prálica,
le limllam.
Como você vê nosso futuro?
Se Ibr na parle de estudos não
vai ser Ixia porque o negro aluai
mente não estuda, se liga mais om
baile, não se aplica mais ás
coisas. Por que! ? Sei lá . vem
vindo através dos tempos. Deve
ser o tl|X) de cunição que vem do
muilo tempo. Já se deixou levar
pelos outros. O que você acha
dessa mensagem que deram ai
dizendo que não tem essa de
consciência racial na música, que
o negócio e dar as mãos prós
"Whilc»?
Acho que estão falando isso
dai porque são obrigados. Por
quem!? Por esse peafoal que ia
por Irás disso tudo. Todo esse
pessoal de dinheiro, de publicada
de. 0 pessoal que financia o baile.
A não ser que ele senle isso, que
ele quer ser dilerenie de Iodos os
outros, porque ai dentro ninguém
pensa assim.
DORA APARECIDA.
trabalhadura.
17 anos,
A gente curte musica nstran
geiru porque o que'a gente unten
de não tem condições. Os cantores
biasileiros não ta/em Soul, so
samba, samba. Kntão não dá, Que
soul brasileiro a gente vai curtir?).
O negro fa no Brasil lazendo
música há 400 anos. De repente
surge essa geração quo só quer
musica americana. Como você
explica isso'
A gome não acha que musica
e so americana. Nós curtimos
música brasileira lambem: Jorge
Ben. Dalé, King Combo. Quem
mais!? Tom pouco lambem, lí...
podes crer! Tem poucos cantores
brasileiros.
No Baile hoje tocou música de
algum desses que você citou?
Teve Jorge Ben e a Banda do
Z(: Pretinho, ao vivo. Em disco.
nenhum.
Ouem curte Soul não curte
Samba?
isso eles inventam porque o
quo sai mais é o Soul. Então
acham que a gome não quer o
samba mais você viu um exemplo
ai com o troleu pro Vai Vai, quan
do o pessoal cantou o vibrou
junto.
0 que significa África?
Embora eu não conhoça, eu
amo a Alricaa. Negro- signilica
Alrica, então a historia da África
e importante porque e a nossa
história.
0 que você aprendeu na esco
Ia sobre a África?
Estudei ale u ,i ginasial e me
lembra de África so quando fala
vara em escravos
Existe preconceito no Brasil
Só existo, nè?
Como você sente?
Por exemplo, você vé na li
visão a polícia lazendo aqui
batidas ali na Rua Direita.
Mappim, por quê? Nunca fizer
isso antes. De repente vêm
ossa: «Vamo limpa aqui, v„
limpa». Se fosse um bando
brancos reunidos eles riem il
chegar perto. Com a gente ê\el
vêm revistando.
Você curte o Mappin?
De vez oni quando. Achol
maior barato.
Há diferença no modo de
branco ou um negro mexer céu
mulher negra na rua?
Tom. É lógico que o negro
umas graças mas não é um nel
cio tão pesado. Agora, o branco
nem fala. Elo vem passando
mão. Elo vô a preta e acha quj
pra ele usar. Isso jã acomeç
comigo várias vezes.
' E quando a negra casa ei
um branco?
Aí ou já acho a negra metil
a branca.. Inclusive, na mini
lamilia tem disso. Minhas tií
minha vó, são casadas com loir
o não gostam do negros. Elas
discutem comigo por causa disJ
Tom cabimento a gente dizer qi
não gosta da própria raça '
Como mudar essa mental
dade?
Pra isso a geme ta lazenJ
essas comunidades e disculL
essas coisas. Não da mais p|
licar nessa, aceiland,, . ,,,■ npo
oisa.
rw
i
ülIBMECRII
ANO I - N? 2
MAIO 1978
Apartheid: Racismo e Exploração
Hoje, na América, escravidão é coisa do
passado, apesar da herança de quase 4 séculos
de racismo oficial ainda marcar a situação
dcsvantajosa que atinge as diversas comunidades
afro americanas. Mas no Sulda África a existên
cia de países que praticam uma política de
exploração racial ainda é uma dura realidade.
Isso acontece na Rodêsia, Namíbia e África do
Sul, onde uma minoria européia controla todo o
poder e se mantém graças ao apoio dos países
industrializados do Ocidente que ali têm grandes
investimentos e interesses. Felizmente essa situa
ção está se alterando porque os africanos, os
verdadeiros donos desses países, estão mobiliza
dos, seja em organizações internacionais como a
ONU. ou nas guerrilhas, trabalhando pela sua
libertação.
Na ONU. onde a força política dos países
africanos é cada vez mais forte, eles têm conse
guído importantes vitórias contra o racismo que
ainda habita o Sul da África mas que já está
com seus dias contados. Reconhecendo que o
apartheid viola os direitos humanos a ONU
declarou o UM CRIME CONTRA A HUMANIDA
DE", e proclamou 1978 como Ano Internacional
Contra o Apartheid. Também a organização Anis
lia Internacional tem desenvolvido campanha
contra o racismo no Sul da África e num estudo
recentemente publicado "Political Imprisionment
f> Torture" acusa- o Governo sul africano de
ditatorial e de proibir qualquer oposição. O docu
mento da Anistia informa que foram proibidos
em 1960 o Conselho Nacional Africano e o Parti
do Africano. O Instituto Cristão Anti Apartheid e
outras 17 organizações do movimento Consciên
cia Negra foram poribidos em 1977 Juntamente
com o jornal negro THE WORLD (O Mundo) que
teve toda sua equipe aprisionada.
Relatórios denunciando torturas tiveram sua
publicação censurada, pois o Governo conside
rou os "indesejáveis". Um destes relatórios "Tor
lura na África do Sul" foi publicado em abril de
77 pelo Instituto Cristão da África do Sul. Uma
das últimas vitimas desse sítema monstruoso foi
o jovem estudante Steve Biko, fundador do movi
mento Consciência Negra, que coordenou os
protestos que agitaram a África do Sul no segun
do semestre de 1976. Steve Biko morreu a
12 09 77. em conseqüência de torturas.
Os portugueses foram os primeiros ocidentais
empregos e pela lei as funções melhor remunera
das são reservadas aos brancos.
A MULHER
As mulheres sãn as mães da raça. E também
a companheira a a filha e sobre elas ü apartheid
é ainda mais esmagador. São exploradas pela
raça e pelo sexo. Nas reservas (ghetos rurais
onde as terras são áridas e improdutivas) as
mulheres vivem juntamente com as crianças e os
velhos e, na maioria dos casos, separadas dos
maridos que vivem nas zonas urbanas Irabalhan
do para os europeus Em algumas comunidades.
as mulheres passam praticamente o dia inteiro a
apanhar lenha ou a transportar água do rio ou
do poço mais próximo para as necessidades da
lamilia. As mulheres das reservas são impedidas.
pela lei de (ir(uUi<,ão. de procurar emprego nas
cidades, onde ha mais trabalho. Dos poucos
empregos que há nas reservas, a maioria é em
funções destinadas aos homens e se alguma
mulher é aceita para trabalhos braçais é por
salário bem menor do que o dos homens. Somen
te 13,6% das mulheres trabalham na terra, como
domésticas nas fazendas brancas próximas das
reservas, ou são diaristas, como lavadeiras.
arrumadeiras cm cidades brancas vizinhas a
certas reservas. Batei empregos são os mais mal
remunerados entre aqueles que os negros podem
ocupar e em certos casos o gasto com transporte
chega a ser tão grande que nem vale a pena
aceitar o emprego
A dona de casa leva uma vida solitária,
numa comunidade formada de mulheres, crian
ças, velhos e doentes que foram expulsos das
cidades logo que terminou sua vida produtiva. A
miséria dessa condição conduz á fome. á doença
e á morte. A tuberculose e outras doenças oriun
das da subnutrição estão muito disseminadas
A maior parte das mulheres que vivem na
zona urbana são solteiras ou divorciadas tendo
que sustentar a si mesmas e aos filhos, A discri
minação de que são vitimas as mulheres e toda
a população negra está enraizada na estrutura
capitalista da África do Sul e só terminará quan
do o apartheid for derrotado. O sr. Tsotsi, um
advogado e líder em sua comunidade, fez um
depoimenuva Comissão dos Direitos Humanos da
ONU em que declarou Para nós. pertencentes á
ciasse oprimida dos não brancos, a África do Sul
que em toda a sua duração combateu vigorosa
mente o domínio europeu. Dez anos após a
morte de Cliaka lassassinado em 1828) a grande
força guerreira zulu e as tribos aliadas enfrenta
ram um inimigo implacável: a tecnologia militar
dos ingleses que vinham do sul Numa lula de
t anhões contra lanças, as margens do Rio
Ncome aconteceu (a 16 12 1838) a Batalha do
Rio de Sangue em que o Ncome se tornou
vermelho Ate hoje os brancos sul-africanos
comemoram essa matança com um feriado naci
onal chamado «O Dia rio Acordo». Mas o império
zulu ex:stiu até IH/íí quando sua capital. Ulundi.
foi tomada pelos ingleses que se apossaram das
terras zulús Hoje a maioria dos zulus vivem em
distritos separados entre si por ricas plantações
pertencentes aos brancos Ao contrário das
terras dos europeus, as zulus são quase sempre
improdutivas sem estradas e com um rendimen
to quer mal dá para a subsistência.
Com a vitoria dos invasores acelera se a
exploração i apitalista dos recursos sul africanos.
Pela famosa Ata de Terra dos Nativos decretada
em 1913 se proibiu aos africanos de possuir
terras fora das zonas indicadas. Na prática, essa
medida (orçava os africanos a viver à custa de
trabalho para os proprietários europeus. Outro
resultado dessa política de propriedade da terra
foi provocar unia corrida dos camponeses para
as cidades em busca rie melhores condições de
vida e aí se transformar numa grande reserva
de mão de obra barata para o sistema capitalista
sul africano Amigração;)ara as cidades abalou e
enfraqueceu a organização da vida africana.
Aumentou o controle policial do povo negro e
alguns pequenos direitos que a população teve
nos primeiros tempos de cidade foram suprimi
dos pouco depois, A resistência africana se mani
festou em todos os setores da vida social urbana,
inclusive na religião.
O primeiro movimento de massas que mobílí
zuu a população africana urbanizada foi um
movimento religioso. No piim ípio deste século as
Igrejas Separatistas Nativas chegavam a 272,
sendo que a primeira foi fundada em 1882. K
essas igrejas apresentaram uma crescente consci
êm ia racial, como resultado da luta da popula
c,ão pelos seus direitos. Km 1920. sob o comando
de Clement Kadalie. foi orcanizado o
Kimberley resultando na morte de centenas de
africanos» e alguns europeus Mas a mobilização
alcançou grande; sucesso e o número de sócios
pagos do Congresso nacional Atrieano que no
início era de 7 mil aumentou para 100 mil
DÉCADA DE 60
VILLE
O MASSACRE DE SHARP
Depois da repressão qur extinguiu o Congres
so do Povo - organização multirracial negra
que em 1955 lançara a Carta d a Liberdade,
documento baseado na Declaração Universal dos
Direitos Humanos, que pedia o lim do apartheid.
surge nova organização: O Congresso Pan
Africanista. De tendência radical. O Congresso
Pan Africanista, liderado pelo professor Rohert
Sobukwc se recusava a qualquer aliança com os
brancos liberais e defendia que «o nacionalismo
exige que os interesses dos povos indígenas
dominem o dos estrangeiros, porque o país
pertence aos povos indígenas».
O CP.A. foi uma organização bastante ativa
e em março (21) de 1960 organizou toncentração
popular em protesto contra as Leis de Passes que
impedem a livre circulação do povo negro. O
governo respondeu atirando contra a população
morreram 70 africanos entre homens, mulheres
e crianças e várias centenas receberam ferimen
tos nesse dia que ficou conhecido corno o Massa
cre de Sharpvílle. sendo a data /\ África pela
ONU como o Dia Intemadoanl para a Elimina
ção da Discriminação Racial.
SOWETO 76 — OS ÚLTIMOS CONFLITOS
A situação na Atrii a do Sul já é de guerra
interna, f uma disputa monstruosamente desi '
gual: de um lado o povo negro segregado e
armado apenas de paus e pedras Do outro, o
exército mais poderoso do continente africano.
Soweto está sempre mergulhado sob espessa
nuvem de fumaça oriunda dos fogões de carvão
ou lenha. Aí vivem segregadas as famílias dos
operários que trabalham em Johannesburg. A
condição de vida é péssima: a maioria das casas
não tem eletricidade, água encanada nem WC.
Os alimentos vêm de fora, o que foi um trunfo
mmm
teve toda sua equipe aprisionada.
Relatórios denumidndo torturas tiveram sua
publicação censurada, pois o Governo conside
rou os "indesejáveis' Um destes relatórios "Tor
tura na África do Sul foi publicado em abril de
77 pelo Instituto Cristão da África do Sul. Uma
das últimas vitimas desse sitema monstruoso foi
o jovem estudante Slevc Biko. fundador do movi
mento Consciência Negra, que coordenou os
protestos que agitaram a África do Sul no segun
do semestre de 1976. Steve Biko morreu a
12 09 77. em conseqüência de torturas.
Os portugueses foram os primeiros ocidentais
a invadir a região sul aíncana conhecida como
província do Cabo. tendo sérias dificuldades com
os povos da região. Um século e meio depois dos
lusos, a 6 de abril de 1652. os holandeses que
fracassaram na conquista de Pernambuco inva
dcm u África do Sul com tropas sob o comando
de JAN VAN íUKBEECK. que chamou os nativos
de "zwarte atinkende Hondon (cachorros negros
fedorentos» * Os invasores holandeses derrota
ram os africanos, tomaram suas terras e seus
recursos e obrigaram o povo negro a trabalhar
para eles. Após os holandeses, franceses alemães
e ingleses chegaram como imigrantes e reforça
ram o domínio europeu
Com o passar do tempo a tradicional atitude
de superioridade dos europeus resultou na cínica
doutrina do Apartheid implantado pelo Partido
Nacionalista, que está no poder desde 1948. Os
afnkaiiners. descendenles dos primeiros colonos
holandeses »• defensores Eanètloos do apartheid.
argumentam cinicameme que esta doutrina prole
ge o carátej das dilir» ates raças assegu
rando a cada uma delas a possibilidade dr
desnvolvereni se sem conflito. Na verdade
Apartheid è uma polilii a de dominação e cxplu™
ração que garante á minoria branca (15 da
população) o total controle econômico e político
do País transformando a maioria negra numa
multidão de trabalhadores explorados cuja
produção garante ã África do Sul a condição de
pais mais rico do Conünente.
VIDAS SEPARADAS A GRANDE EXPLORAÇÃO
Quase iodos os aspectos da vida da popula
ção negra está sob vigilância policial. Cada raça
tem que usar diferentes transportes, escolas,
igrejas, hospitais, cinemas ou praias. Manter a
segregação é uma obsessão constante dos afrika
aners. A educação escolar è usada pelo Governo
para perpetuar a exploração: o ensino só é
gratuito para os bramos e a educação prepara
de forma diferente cada raça, praticamente índi
cando o lugar de cada uma na sociedade. Um
relatório da Organização das Nações Unidas
para a Educação, Ciência e Cultura (Unetcui
sobre o apartbnd constatou que "os livros didà
ticos sul africanos ensinam os africanos que eles
ocupam uma posição inferior na sociedade,
enquüiiLu as crianças brancas aprendem que os
europeus são superiores e os negros são primiti
vos e bárban»".
Os africanos estão empregados abaixo de
suas capacidades e por salários tão baixus que
não t conseguem ter uma vida decente. Existe
uma política de afastar os negros dos melhores
e a morte. A tuberculose e outras doenças oriun
das da subnutrição estão muito disseminadas.
A maior parte das mulheres que vivem na
zona urbana são solteiras ou divorciadas tendo
que sustentar a si mesmas e aos filhos. A discri
minação de que são vítimas as mulheres e toda
a população negra está enraizada na estrutura
capitalista da África do Sul e só terminará quan
do o apartheid for derrotado. O sr. Tsotsi. um
advogado e líder em sua comunidade, fez um
depoímenu^à Comissão dos Direitos Humanos da
ONU em que declarou: "Para nós. pertencentes á
c lasse oprimida dos não brancos, u África do Sul
é um imenso cárcere ou campo de concentração,
com suas (àmarus de gás e de torturas. Pouco
sabe o mundo exterior sobre as condições dos
camponeses t- os sofrimentos que têm que supor
lar não apenas nas mãos da Policia, mas
lambem nas garras de um sislema torrupto e
violento"
AS LEIS DO APARTHEID
1
Mesmo que resida legalmente numa cidade,
nenhum africano possui o direito de ter consigo
mulher, tilhos. sobrinhos ou netos por período
superior a 72 h.
2 Sempre que julgar oportuno, o presidente do
Estado pode declarar uma área propriedade do
grupo branco mt*mo que até então ela tenha
sulo ocupada pelos não brancos.
3 Qualquer afrít ano maior de 16 anos é obri
gado a carregar ura livro de referência . Se for
pi-^o sem ele. será punido com mulia e prisão de
um mês
4
Ura operário africano que se ausente do
trabalho por 24 horas, além de ser demitido será
puiiido com multa e prisão de três meses.
5 Se um trabalhador bramo morri; tm acidente
de trabalho, seus descendentes têm direito a
indenização, e. ainda, pensão mensal baseada
em seu salário Os descendentes de um africano
que morra por acidente de trabalho não têm
d.reilo a pensão mensal, somente ã índeni^açãi)
fixada ptrlo comissário do trabalho
6 Um africano que dirija uma classe de leitura
B tsc rita em sua própria casa. mesmo gratuita,
pode ser multado e preso durante seis meses
7 Aquele que duranie uma reunião incitar um
auditório negro a ações de protesto contra as leis
do apartheid será multado e aprisionado por 5
a nos.
8
Nenhum africano pode ser membro de um
júri formado para um processo penal, mesmo se
o acusado for um africano.
A LONGA LUTA DE RESISTÊNCIA
A resistência existe desde o momento em que
as botas dos portugueses - os priim.-irus invaso
res
pisaram as terras sul africanas. As gucr
ras e guerrilhas negras compõem a história da
resisiência africana ao colonialismo europeu que
nessa época fazia suas primeiras ^conquistas
Chaka e Umzilikazi, furam dois grandes chefes
nulitüres negros que impuseram varias derrotas
aos soldados da exploração européia.
Em 1816 Chaka deu início ao império Zutu
mm
nos primeiros tempos de cidade foram suprimi
dos pouco depois. A resistência africana se mani
Testou em todos os setores da vida social urbana,
inclusive na religida
0 primeiro movimento de massas que mobili
zou a população africana urbanizada fui um
movimento religioso. No prim ipio deste século as
Igrejas Separatistas Nativas chegavam a 272.
sendo que a primeira foi fundada em 1882. K
essas igrejas apresentaram uma crescente c onsc i
ência racial, como resultado da lota da popula
ção pelos seus direitos. Km 1920. sob o com.indo
de Clement Kadalie. foi organizado o primeiro
grande sindicalo africano e que (hrgou a contar
com lüü mil associados Sais anos mais tarde
aprisionaram Kadalio que foi solto logo depois
por causa dos protestos o distuihios que levanta
ram o povo negro Creves tur.mi feitas pelos
empregados niuiiirip.iis em Jahannesburg. pelos
mineircw cm Natal e no Transva.ii. pelos traba
lhadores portuários da cidade do Cabo, demons
trando a organização e a resistência da popula
ção africana. De outro lado. o poder europeu sr
mostrava mais duro e repressivo Em 1929.
durante campanha eleitoral, o primeiro ministro
Hertzog. um dos criadores do apartheid, ttv
campanha pelo Partido Nacionalista falando em
iperigo negro». Em 1936 o Parlamento aprovou
a Ata de Representação dos Nativos que cassou
os poucos direitos nvis da população africana da
Hidade do ('abo
Sob dura repressão DO período entre 1929 e
1942 a reisitéiuia africana teve sua lase mais
fraca Vieram decretos restringindo zonas S
moradias, proibindo or^am/açòes, eliminando
direitos eleitorais A pariu de 1942. por causa
da crise detoneme da 2' guerra n.tnulial. 0
governo, então chefiado pelu Reneral Smuts
ensaiou umas tímidas reformas O controle poli
ciai da vida aír.cana é cada vez mais imenso
Em I de muio de 1963 o Parlamento aprova lei
que permile a policia prender tomo suspeito, por
sucessivosperiodosde 90 dias, qualquer africano
Um ano antes o giverno havia liberado a venda
de bebidas alcoólicas aos africanos.
Depois de atividades como a queima de
passes em l.an>;a em 1946, protestos em 1949 e
demonstrações durante 19fÍU e 1901. o CORgTO
so Nacional Africano organizou a Campanha de
oposição (1902 r,3( utilizando a tática da desobe
diêncía cívil não viulenia Avisaram as autorida
des garantindo que a luta não era de canKer
racial e sim contra as leis injustas e solicitaram
a extinção das leis repressivas. Foi muito difícil
coordenar a campanha de oposição com os lele
fones controlados, os correiros inlercepuidos. As
atividades iniciaram se a 2b G 1952 quando os
voluntários peneiraram, sem auiorização. nas
reservas, circulavam a noite sem passes c utih
/aram os ^erviços públicos reservados «so para
europeus». O governo interveio para «impor a
ordem* e suspendeu toda atividade organizada
da população negra, na provincia do Cabo. a
principal zona de apoio da campanhiu loram
presos Í>.7UÜ dos 8.000 resistentes Ocorreram
distúrbios em Port Elizabelh. East London c
A situação na Afrii a do Sul )á e de guerra
interna fi uma disputa monstruosamenii dosi
gual de um lado 0 povo ne>;ro segregado e
armado apenas de paus e pedras lio outro o
exército rnais poderoso do cootinenie africano
Soweto esi.i sempre mergulhado vib espessa
nuvem de fumaça oriunda dos togões de carvêO
ou lenha Ai vivem SQgregadas as lamilias dos
Operários que trabalham em Johannesburg A
COndiçflo de vida e ()essima a maioria das casas
não tem eletricidade água emanada nem WC
Os alimentos vèm de fora, o que (oi um trunfo
para o sistema racista que durante as ulumas
manifestações suspendeu o abanteciroento e
ameaçou cora a fome D custu de vida em SOAI
to e mais caro (pie nas cidades brancas e alem
da miserável condição de vida seus habitantes
einds são explorados pela industria turlstii a
sul africana. IJU.IS ve/es poi dia, luxuosos Ônibus
refrigerados uMiduzem turistas para conhe
gbetQ Amonloados nas piores ■ondiçòes. expio
rados e se envolvendo em rixas que são incenli
vadas pelo Sistuma, matam se uns aos outros
indo uma média de 3 bomictdius poi dia.
0 ALTO PADRÃO DK VIDA DA MINORIA
«.loh.inneslnirg
A cidade estava em ; alma
■.ste fim de semana Seus - antrus i omei iais
lotados, seus campos de guifl e rhibes de tênis
concocridott como nunca Sua estradas avei
repletas de Metiedes Ufti/. AAfru a du Sul ti: Ifl
ca, que se orguiha de ler um dos m.us altOS
mveis de VKÍ.I do mundo, aproveitava o ai ír.re
Após semanas de conflito em Sowetu
«a tida
de fantasma» instalada alem das minas de ouro
abandonadas, a comunidade brara a per manei e
quase que (umptetumi nte mloi tida» (Jornal do
Brasil, 10 K 7bi
Os chsiurhios que agitaram B África do Sul no
2 semestre de 1976 cumeçarani quando os ntu
dantes de Soweio. mobili/ados [H Io movimento
( onsc iene ia Negra, saíram as ruas era protesto
(Cintra a intenção do gnveniode otinga lusa usar
o Atnkaan
a lingua olitial du apaiUht.-Éil
o
que isolaria us negros sul ■frv a:ios de Iodos os
outros negros do mundo Os tontliius estende
ram se as 4 provii ias sul africanas u englobaram
as 12 principais tidades. Os rebeldes queimaram
carros e viaturas jxilicia.s. a)iedrejaraiii traba
lhadores que rec usaram greve de .iopio. incendi
aram edillcios púbUcus, arrombaram lojas e
destruiram arnia/eiis dtt&tinadus a venda de
bebidas alcoólicas, aos negros Tüdas as institui
çòes que funcionavam a serviço do racismo e da
exploração foram atacadas e greves parafisarara
.i economia que deponde quase totalmente dos
negros que repi esiulam 71
d.i turca de
trabalho.
A repressão foi violenta aproximadanifTile
ÜÜU mortes, l üOU feridos. 2 mil ufrítanos presos
além de 8U brancos, estudantes da Tniversidade
du Caibo que tizerani mar. lia de solidariedade uu
movimento de Suwelo K o governo .a abou des.s
lindo de impor a língua att ik.i.eiei ao pOVO
negro da Alriia du Sul.
.PÁGINA 6
MAIO 1978
.IBIIRNEEKII;
13 DE
MAIO DA
JUVENTUDE
NEGRA
Treze de maio que não e mais do preto velho
do pai João, da mãe Maria
do negrinho do pastoreio
Treze de maio que não è mais
do misticismo, da «simpatia», do «despacho»
Treze de maio da Juventude Negra
lutando por outra libertação
contra os senhores
capatazes
capitães do mato
que permanecem vivos
cometendo os mesmos crimes
as mesmas injustiças
as mesmas desumanidades
Treze de Maio dos poetas conscientes
SOLANO TRINDADE
Abolição?
Urru) das Lontradições do sistema
escravista era a massa negra, elemen
lü indispensável ao funcionamento do
sistema e, também B maior ameaça ú
sobrevivência du escravismo porque,
enquanto oprimida, a população negra
estava Interessada na destruição desse
sislema que lhe sugava o fruto do
trabalho, a saúde, o direito á família,
a dignidade e a esperança. Para o
nosso povo, violentado pelos soldados
da exploração européia o obrigados a
trabalhar para a riqueza das nações
envolvidas nesse lucrativo negócio,
não havia muita opção: era sofrer a
danaçãu em vida ou arriscar se
tentando subverter aquela ordem
ili.ihuli. u que enriquecia a Europa,
sangrava a África e esgotava a Amé
rica.
Por isso rebeliões escravas contra
a ordem colonialista portuguesa aqui
implantada marcaram todo o período
da escravidão na sociedade brasileira
0 aconteceram em lodo o espaço naci
onal, sendo Palmares o exemplo mais
Famoso. Mas, o poderio europeu sendo
superior acabou se impondo. Isto
porque os países envolvidos no tráfico
negreiro eram as maiores potências do
mundo naquela época e se ajudavam
mutuamente na repressão aos escravos enquanto estes lutavam sozinhos
utilizando lanças contra os canhões
curojicus. Vitorioso no. terreno militar,
o poder escravagista tratou de impedir
a consciência dos que sobreviveram
labricando falsas interpretações das
situações vividas pelo nosso povo. Dai
os aciinlecimentos e os personagens
que testemunhavam a resistôncia
nep.ra e posbuiam uma mensagiMii íle
cunsciência o de libertação para os
descendeules de africanos, foram
trancados iu>.s porões da história qu.ui
tio não destruídos, como Iiv. Kui
Barbosa, que mandou queimar docu
mentos da escravidão. Então, em
lugar da tradição de lula dos nossos
antepassados nos ensinaram a versão
dos dominadores na qual aparecemos
como submissos. Intelectualmente Info
riorrs. etc, E u tática foi produtiva,
pois, conforme observou Joaquim
Nabuco em O Abolicionismo: «A escravidão, por felicidade nossa, não
azedou a alma do escravo contra o
senhor, talando colotlvamente, nem
criou entre as duas raças, o ódio
recíproco que existe naturalmente
entre opressores e oprimidos». Ensina
ram nos u pedir e nãoacobrar.u espe
rar e não a fazer, a acreditar o não a
pensar. Perdemos a perspectiva de
nossa participação na história o nos
deram mitos como; o «13 de maio», a
mãe preta, a princesa Isabel, a mulata exportação, o samba exaltação.
Fizeram a abolição, mas não no
interesse do |X)VO negro e sim das
necessidades da classe dominante que
precisava reajustar o Brasil ás novas
exigências da economia européia e ao
mesmo tempo romper seu Isolamento,
pois, conforme mostra Thomas Skitl
more em Preto no Branco: «os brancos
jamais constituíram maioria cm
nenhum lugar do Brasil até que a
Imigração veio alterar radicalmente o
equilíbrio racial nos estados do Sul e
do Centro Sul», > UUUIKIO começou a
campanha da abolição a massa escru
va concentrava st: nas 3 maiores
províncias produtoras de café
São
Paulo, Kio de Janeiro o Minas tarais
- e a maioria dos abolicionistas
defenderam a imigração como forma
de acelerar o processo de cbronquea
nienUM no Brasil, Sendo a abolição o
resultado de uma pohlica orientada
apenas pelos interesses da elite, a sílu
ação do negro piorou. Milhares saíram
vagando sem destino e os que migra
ram paia as cidades encontraram
um ambiente hostil onde teriam de
competir com os imigrantes, muito
mais preparados para sobreviver
numa nova sociedade, agora urbana
industrial o cupitulislu.
A vida IKJS abolição foi uma luta
ainda mais dura. Na condição de
escravo, o negro tinha a sobrevivCn
cia garantida polo
escravagista
porque precisava dele para produzir,
Agora, desjíejado numa nova realidade
que não precisava do trabalhado
escravo, o povo negro se refugiou na
marginalidade se organizando em
bandos que garantiam a subsistência
na base do banditismo, atemorizando
as cidades. Nesse mundo urbano onde
as oportunidades nam reservadas aos
imigrantes que já estavam adaptados
ao tipo de organização capitalista que
então se implantava iio Brasil, a
massa negra tenta furar o bloqueio e
penetrar no mundo do homem livre se
aproximando o máximo possível dos
padrões europeus. P assim vão apare
condo na comunidade negra urbaniza
tln grupos que, aos pontos chegaram
a uma condirão inacessível a maioria
Pssa posição privilegiada resultou de
um longo processo de alienação, onde
o deslinnbi ainenta com os padrões
europeus estimulou o consumo de
produtos paia clarear a pele, pasta
para ulizainenlo di» cabelos, perucas
e o desprezo, quando não a recusa por
suas origens e raízes africanas. Mas
essa descaracterização não abriu
todas as |X)rtas e ainda marcou os
adeptos desse esquema como negros
de alma branca.
Hoje, 90 anos após a abolição,
({liando os povos africanos dão a
arrancada linal jxira destruir os últi
mos vestígios de colonialismo o traçam
os contürnos de uma nova humanida
de, ressurgem na comunidade afro
brasileira correntes de opinião que
não aceitam o «embranquecimento»
como condição para o reconhecimento
de seus direitos de cidadão. Hssas
correntes, têm nos direitos do homem1
negro sua preocupação fundamental e
a sua valorização ê meta básica. F.
para isso não basta haver entidades
interessadas. É fundamental a partici
pação ativa e consciente de cada um
para o fortalecimento dessas entidades
e para por em prática nossa consciên
cia do comunidade. Só assim é que
todos poderemos exigir o pedaço que
nos é direito e o respeito que nos é
devido. Desta maneira tidos devolve
remos o «13» dado e revitalizaremos o
2ü de novembro, dia de Zumbi, herói
da consciência negra.
MAIO 1978
anRMCEffn
• • ■/d'en éãO; qroe c/errotac/o
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PÁGINA 7
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c/a sua v/c/a
pe/a //óerc/ac/e do escravo neoro
açu/ no
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^—i--k^
6ACAÍ.E CHEoA t^A1.
TERRA MÃO
PROMETiOA ^^E^^
COMBINADA COMO
I F.STlNO (WRAOò
â P^I-S-Ofjf.iROS DAS
/) í>U£KWA5ENTRtAS
TRIBOS AFRICANAS.
E JjOüOCOLOCAtX3 KO
MERCADO"P£&Ut SEU
i^EQ^O L NÃO TRAÔAL^E'.
«NOO UM MOWttABEW
fQRTE(GA&ALt TEM
SEU 'PASS£-ADQüI
RIDO POR UM SENHOR
" E t>EM PODER
EMIEMOER. QUE
TifiMANASM&CS
Sb UMARTEbÜOE
CATEGORIA, OUE
SA81A TRABALHAR
PERRO, ESCREVER;
SUAUN&UA.ETC,
* PARA TRABALÍtOS
iNPERORES E FORÇADOS. J
GAC-ALÍ'
PASSOU
POR
AQCITÍS...
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MESMO.
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DOfJA? SABE NE?/DEIXE DISTOf
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GAZALÉ CHZ5A AO PORTO £.,
EEU?
QUANDO SAI O NAVIO
COMO
^. \QU6 VAI ME
FICO?
SALA'RIO DE / /PEGUE SUA
J^-ALEVAR DEVOLTA
ONDE
ESCRAVO E' //LIBERDADE E
EU
VOU
MEIO^BAIXO.//SUMA." ,
^\~\PARA A A'FR1CA?
MORAR?
QUERO
1 OBRIGADO.
BEM, A UNHA
DIZER;
FOI CANCE
V©
PODE
BE.M,0 JETO
i^
IR-SE
,
E' IR 5E ARRUMANDO
^ EMBORA/
POR Al'. VEJA SE V.
FAZ UM
BARRACO, ^1BIn
Ti/JTO Ql/€
GANHOU DA
ESPERA mWm
íJCOAV/OÃO
£ '.Ai MBA 0
"OAÍO...
Mazzaropi:
brincando com
coisa séria
Não sou critico proíísiioual Nio
fdço disso ganha pão c sempre üdmirci
Mazzaropi Mas seu último filme di-cep
tionou y su niostrou negro -snu senho»
Quem um sangue nas veias reage a
qualquer estimuJo mas o filho preto dij
Jvca t/Vilenorl ê, não só passivo mas
lambem idiota que nem se incomoda
com o jbsurdü de nr filho du um casal
que não e negro. Por isso o Jecj descon
fia. Para ele isso cheira adultério
^J
enquanto sud mulher Jura inocência e
vem CüIII uma eslona de uma conhecida
que. quando grávida, se assustou cutn
um preto o deu a luz a um negnnho. E
os dois acaUim concluindo que foi Ueus
quem lhes mandou esse filho prelo
bon/inho e humilde A única coisa que o
agita e o amor por uma branca rica que
e quem luma as imuativas que a situu
(,ào amorosa exige EU» è apenas confor
mista que quando a coisa aperta garan
te KM pais que não vai causar nenhum
abuireuineiuo porq-Je babe seu lugar.
Será que ninguém lhe preveniu.
Maz/aropi, que a queslão rui lal e um
problema muito sério, è a raiz de nmiUts
males da humanidade u que nâu é
assunto pra se fazer simplificações '
meniirosas c piadmhas idious? Ficou
TE VIRA
s£' EU ACHO QUE r,
^ FUI ENGANADO/
OAGALE, QUS SO' COHSEGU/tf
FAZER UM BtMACO MO MORRO
DéPOlS Dê JfiABALHAR TANTO
JA'NÂO BE CONTENTA COM OS
BJC06 QUE A CWAÜE ÍA'£MSAUO
iN£ -PA'", 603 OS
OíNA/tES ÜE OO/i.
AiNDA DESCOUTe/VE *
COM A V/DA DE
6ACAU'f£S7£ VAI
PEHSANOO COMO
RECUPERAR O
QO£ AJUOCU
A FAZER, £
ALCANÇAR SUA
nuaDAoe*
claro que o filme não se preocupou em
musirar o negro reagindo diante da
agressão racial, preterindo revelar os
sentimentos do branco diante do proble
ma racial criado por seus antepassados
tdo braiicol Ai o filme menle mais uma
vez. t mente descaradamente ao apre
sentar uma cidade do interior — por
luso mOMDO mais tradicional no racismo
camutlado que existe cm nosso país- —
unde so uma pessoa, o coronel Cheiroso.
■ ra( isla (J resta é tudo santo, ne?
K da raiva perceber que o filme
lambAm pnfen esconder o racismo sob
uma siiuitão de paternidade (nmum
entre CPS noivos. K assim o film.- acaba
justilicando que o coronel Cheiroso
matou o padrinho de sua liiha, não por
UT ele apoiado o casamento C o negro
mas. porque o negro que era conhecido
como filho do Jeca era na verdade seu
próprio filho com uma mulher negra
que ela tinha violentado o, portanto,
união de Laura. sua filha, por quem
Antenor estava apaixonado. Kica então a
suposição de quo havia racumu sò na
aparência. Ora, isso é conversa pra boi
dormir, pois. na vida real o grilo que
sempre pinta em cima de casamento
misto é racismo no duro. E como não
somos bois estamos contra essa mania
de boiar panos quenu-s no racismo que
sempre nos prejudicou e que e dificd de
ser combatido camuflado como e.
Salje Jeca. seu filme teotou brincar
com um assunto que não pra isso. Por
isso todo negro que ri ao ver seu filme
está aceitando seu jogumho irrespoasa
vel que tá ajudando a encobrir o
■acismo.

Benzer belgeler

OIiJIBJIEHHE

OIiJIBJIEHHE Hacren cb,lJ.e6eH 113ITbJIHf.!TeJIJIYl.J:l15I TACEBA, per. N2 737, PaMOH aa ,lJ.eilCTBl1eOC ,1J;06PWI, rp. ,1J;06PWI, yJI. "reH.Kl1ceJIOB" 5, eT.4 JIoBHO-pI16apCKO zipyscecrao , TeJI. OSg 600313, c...

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Helal Hafiz - PoemHunter.com

Helal Hafiz - PoemHunter.com He studied at Netrokona Datta High School, Netrokona College and University of Dhaka. His first collection of poems: Je Jale Agun Jwale published in 1986 was the best-selling Bengali book in Ekushe...

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